A UNITA apresentou um protesto formal ao Conselho Nacional de Comunicação Social em que acusa os media estatais de “tratamento diferenciado”. Tudo como habitual, portanto. O regime põe, dispõe, parte e reparte e fica com tudo. Para disfarçar, de quando em vez, dá umas migalhas à oposição. É a democracia “made in MPLA”.
Em causa está, segundo a UNITA, a não cobertura noticiosa da pré-campanha para as eleições gerais feita pela Televisão Pública de Angola e pelo Jornal de Angola. Quando será que o Galo Negro compreende que o JA e a TPA não são órgão do Estado mas apenas e só do MPLA?
Em nota divulgada hoje pelo grupo parlamentar da UNITA, o partido refere ter-se queixado àquela entidade reguladora do sector devido à “postura parcial e de tratamento diferenciado da comunicação social pública em favor do MPLA”.
Se a tese oficial continua a ser a de que “Angola é o MPLA e o MPLA é Angola”, não se pode esperar outro comportamento. A UNITA ainda tem a sorte, graças ao magnânimo espírito do “escolhido de Deus”, de a deixarem sobreviver e ir dizendo umas coisas para, de facto, parecer que Angola é aquilo que não é: uma democracia e um Estado de Direito.
Diz a UNITA que os órgãos de comunicação do MPLA (TPA e Jornal de Angola) penalizam “as outras formações partidárias, numa clara violação da Constituição e da Lei”. Neste caso, obviamente que o partido de Isaías Samakuva não tem razão. E não tem porque, sendo órgãos do MPLA, só lhes cabe relatar o que o MPLA quer. Simples.
A UNITA refere ter endereçado, na terça-feira, notas de protesto às direcções daqueles dois órgãos de comunicação social, detidos pelo Estado/MPLA. Nada adianta. É, aliás, uma perda de tempo. As “ordens superiores” são claras. Os órgãos do MPLA não devem informar mas só propagandear o que o partido entender. E, convenhamos, a TPA e o JA cumprem rigorosamente as ordens.
Nos últimos dias têm sido divulgadas pelos órgãos do MPLA (que, erradamente, muitos teimam em chamar estatais), com destaque, as várias iniciativas de campanha do cabeça-de-lista do MPLA às próximas eleições gerais, o general João Lourenço, nomeadamente os comícios nas províncias da Huíla (sábado) e da Luanda Norte (segunda-feira).
O MPLA, no poder em Angola desde 1975, foi único partido até ao momento a divulgar publicamente as listas candidatas (círculos nacional e provinciais) às eleições gerais previstas para Agosto.
“As iniciativas ora tomadas serão seguidas de outras complementares, procurando pôr cobro à utilização abusiva e escandalosa dos órgãos públicos de comunicação social”, acusa ainda o grupo parlamentar da UNITA, liderado pelo deputado Adalberto da Costa Júnior.
Na mesma nota, o partido do Galo Negro exorta o Governo e o partido no poder (são uma e a mesma coisa) “a abraçarem actos conformados ao Estado de Direito e deixarem de interferir na gestão da comunicação social pública e no condicionamento do trabalho dos jornalistas” que, afirma a UNITA, são “obrigados a violar a Lei e a deontologia profissionais para salvaguardarem os seus empregos”.
Esta é boa e digna de registo. Estado de Direito? Onde? Comunicação social pública? Onde? Jornalistas obrigados a violar a lei a deontologia? Onde?
Isaías Samakuva, presidente do partido, deverá liderar a lista da UNITA pelo círculo nacional nas eleições gerais deste ano em Angola, concorrendo assim ao cargo de Presidente da República contra João Lourenço, do MPLA.
O actual chefe de Estado e líder do MPLA desde 1979, José Eduardo dos Santos, não consta das listas do partido e já anunciou que pretende abandonar a vida política em 2018, embora mantendo-se como presidente do MPLA até 2021. Ou seja, tudo ficará na mesma.
Folha 8 com Lusa